segunda-feira, 30 de maio de 2011

Encanta, colore e faz bem!


Num povoado distante no alto sertão do Nordeste, a seca a castigar os torrões daqueles lugarejos distantes, aguá mesmo só indo em busca por caminhar vários quilômetros. Diariamente a uma valente senhora, na hora marcada para aquele itinerário saia de sua casinha com 2 potes de barro e uma espécie de cajado para ajudar a trazê-los de volta, de uma forma à equilibrar o peso sobre os ombros.
Nós somos 75% água, o planeta é 70% água, tudo que flui, hidrata e floresce precisa de água. Assim como a única coisa indispensável naquela casa, a água valia todo aquele esforço desgastante diariamente por tê-la. Os seus 2 vasos, artigos fomentadores dessa dádiva, eram companheiros de longa data da senhora.
Há muitos anos eles a acompanhavam nessa labuta, um ainda se conservava inteiro só a cor havia mudado com tantos anos de uso, esse sempre caminhava no ombro direito da mulher, algum lodo e arranhões pela superfície; já o outro havia se rachado de uma extremidade a outra em uma queda, quando a senhora subia um barranco com eles cheio de água sobre os ombros através do cajado, e era colocado sempre no ombro esquerdo.

Já fazia meses que o próprio vaso havia se notando com a rachadura e assim sua inutilidade. Ele vinha vasando por entre a falha e chegava praticamente sem água ao destino. Mesmo com tristeza e humilhado se perguntava o porque da sua dona não o abandonar no quintal e procurar um vaso novo e sem rachaduras que pudesse trazer a água para casa. Não havia sentindo em andar quilômetros em sol a pino para chegar só com metade da água que precisava em casa. Dia a pós dia essa perguntava se repetia no vaso, e sem resultado por mais especulações fizesse resmungando não chegava a uma resposta que o convencesse.
Em um dia em que o sol estava por demasiado quente, durante a volta para casa o vaso resolveu perguntar diretamente para a senhora o porque daquela insistência com ele.

- Senhora, há meses não entendo uma coisa. Eu me rachei de uma ponta a outra, não consigo mais reservar a água que andamos tanto e com tanto sacrifício para levar à casa. Porque a senhora ainda insiste em ficar comigo? Ainda insiste em fazer de mim o instrumento?

A senhora parou o colocou no chão, juntamente com o outro vaso, e virou-se para trás.

- Olhe para todo o lado esquerdo do caminho que traçamos todos os dias! Eles agora tem flores lindas, que encantam, colorem e me fazem bem por entre tanta dificuldade. Graças a sua rachadura elas poderam florescer para encantar o meu caminho, sua gotas que caem todos os dias nelas é que as matem vivas. Não me importo em chegar em casa com metade do que deveria levar, pois o perfume e cor das flores pelo caminho é que me dão ânimo de seguir em frente!

Nós não somos perfeitos, nunca seremos. Mas somos responsáveis por fazer florescer flores nos outros!


(P.S. Você me encanta, me colore e me faz bem. Nas minhas faces e no meu coração florescem um jardim). 
Dinha Gonçalves

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Inteligência me atrai


Os trejeitos incomuns, como se fossem de uma outra época, sutis, gentis, doces, como em sincronismo. O resquício de um sorriso a perturbar o canto da boca, como maliciosamente. A ironia bem colocada, interpelada pelo elogio. O cheiro fresco de hortelã que sai pela boca de um sorriso aberto.

O odor da inteligência bem colocada nas frases ácidas e bem humoradas.  As mãos e os pés de dedos longos, altivos, mostrando imposição. A forma de segurar a taça de vinho, como se estivesse a oferecê-la. A caligrafia firme de um lápis agarrado com sutileza pela cintura, como se levado num tango. O despojamento ao ler um livro, como se fosse uma receita materna, simples, entendida. A silhueta de andar pelas ruas, como se estivesse alguns centímetros do chão, a flutuar.

Incomum alguém com tantos encontros entre si e no que se torna. Como se todo o conjunto e contexto que formam você fosse de caso repensado. Como se tudo se combinasse em um experimento de laboratório. 

Estonteante! Como em uma atração legalizada pela física, você me atrai para si. Como um imã, o meu campo magnético gira em torno de você, no seu radar.
Nos teus gestos pensados e nas tuas frases lidas, eu tento decodificar a mensagem subliminar que entra pelos meus ouvidos e encontram meu inconsciente. Assim, camada por camada de você foi se preenchendo dentro de mim, como em doses homeopáticas eu te tomo. Me curará? Tenho esperanças para a cura de uma loucura.

A sua inteligência em ser me atrai.

Dinha Gonçalves

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"E ninguém, mas ninguém percebia que a sua raiva era um amor muito bem disfarçado." (Parte I)

Era a quinta vez que desmanchava o penteado, com o broche em forma de borboleta que prendia as mechas de um preto quase azul, do lado esquerdo da cabeça. Ela achava que o volume do cabelo posto desse lado, favorecia o que mais tinha de belo no rosto: o par de olhos de um mel puro.

Por fim achou melhor apenas colocar o cabelo de lado, e jogou o broche em cima da antiga penteadeira de madre-pérola, presente de quinze anos de sua bisavó: "Você agora é uma bela moça. Precisa de uma penteadeira para se enfeitar." Desceu as escadas sobre os sapatos quase novos, fazendo barulho na madeira, resmungou algo como "Deveria ter colocado os de sempre, detesto esse barulho..."

Na sala em volta do piano, na varanda, ao pé da escada, nas janelas, as mesmas pessoas de sempre. Os mesmos cavalheiros acompanhados de suas senhoras, as mesmas senhoras acompanhadas (algumas) de suas damas de companhia, as mesmas conversas vazias e sem graça, o preço do café, a crise que se aproxima, a libertação do escravizados que se faz fato consumado. E à olhar a lua de quarto crescente naquela noite, ao pé da janela do lado esquerdo da porta principal... ELE!

As pupilas dela se delataram como se fosse ofuscada por grande emoção, boa ou péssima. Bradou silenciosamente para si - "E eu ainda tinha esperanças de ao menos a noite ser tragável o suficiente para que não me recolha quinze minutos após esse exato agora..."


(Continua...)

Dinha Gonçalves