domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Fábula da Bonequinha

"Bonequinha você acredita mesmo que um dia alguém irá sentar numa calçada para admirar a lua com você?"



De súbito os olhos claros que refletiam a beleza da noite numa lua linda, cheia baixa enorme, repleta de amor pela terra, travaram no vazio da pergunta sem resposta. No silencio desconfio que algo se quebrou, estilhaços de certeza se lançaram pelo chão. Plantaram uma dúvida na cabeça de uma bonequinha de neve, frágil e doce. Tudo anda tão melancólico, corroendo o frágil, a acidez da realidade se refaz em uma armadura forçada contra as lagartinhas daninhas. Sim existem largatinhas daninhas, e são como pestes, destroem plantações de sentimentos.

No céu daquela bonequinha havia aquela lua linda à espera de contemplação, periodicamente ali sempre bela, vaidosa, exuberando sua beleza. Mas como uma bonequinha admirar a lua sozinha? Bonecas foram feitas para acompanharem sentimentos.
- "Mamãe, quero aquela boneca! Pra ser minha melhor amiga!"
- "Certo filha! Mamãe compra se você prometer que vai cuidar dela com todo carinho."
- "Prometo!"

Assim as bonecas entram na vida das crianças, pelo amor, agregando sentimentos.
A bonequinha de neve andava cansada dessa moda do novo século, a solidão. Entre tantos males, enfermidades, guerras, a solidão se tornar um mal secular.
Inadmissível!!!
Onde entre tantos iguais, uma bonequinha de neve linda sofreria de solidão?
Mas ela não desistia e continuava acreditando em amores épicos e contos de fadas, banhados por aquela lua no céu.


Ah, ela não pede muito nem tanto. Apenas alguém assim como ela com olhos de cristais para admirar a beleza daquela lua no céu estrelado, esquentar seu coração encantando e provar do seu colorido adocicado.
Viajantes, sonhadores ou passantes não importa a distinção, basta ter bom coração e ganhar o sorriso iluminado da Bonequinha de Neve de sonhos embalados.


P.S. Para minha amiga Bonequinha de Neve (Renata Sousa)


Dinha Gonçalves

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Produção em massa



- Amiga ganhei aquela maquiagem nova da propaganda!!!
- Mentiraaaaa!!!!!!!!!!!! Vou infartar com ela, é meu sonho!

Não que eu ande cética demais, mas de uns anos pra cá venho achando que as pessoas andam saindo da mesma linha de produção e justamente na máquina de personalidade houve uma falha. Uma falha maquiada, vendida, explorada.

Quanto nada. Quanta babaquice. Quanta burrice.

Agregar valores realmente é algo muito pessoal particular, mas agregar valor a uma peça de roupa da moda, sonhar três dias com a maquiagem da propaganda e só falar nas próximas baladas do mês mais do que se quer saber da redemocratização do Egito ou do aumento mizerável do salário mínino, sinceramente é falta de algo aproveitável dentro da cabeça.  A máxima popular diz que saco parado não para em pé, se o ditado fosse  meu tinha trocado o "saco" pela "cabeça". As pessoas falam em futilidades como se fosse a cura do câncer, e o que mais impressiona é que outras milhares concordam.

Ando sem paciência para pessoas ocas e burras.

Ninguém interessante? Então é melhor acompanhar-se de si mesmo, com suas coisinhas recheadas de personalidade.
Será muito pedir vida inteligente andando por aí? Conteúdo, críticas, posições, idéias, soluções?
Pessoas sem piloto automático no comando. Corações, pulsos, choros, gritos, ódios.

O que me consola em meio a essa aversão de cérebros com pessoas ocas, é que existe pernas carregando vida inteligente  por aí.

Dinha Gonçalves

O Amor - Wladimir Maiakóvski

Um dia, quem sabe, ela, que também gostava de bichos, apareça numa alameda do zoo, sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me, nem que seja só porque te esperava como um poeta, repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me, nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo de casamentos, concupiscência, salários.
Para que, maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia, que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver livre dos nichos das casa.
Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a Terra. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Turismo

Durante as quatro aulas de Geografia do Turismo o professor saiu com uma curiosidade interessante. A invenção do velcro. Deixando de lado todas as maledicências e comentários homossexuais sobre o tema, achei interessantíssima a aventura na qual a curiosidade se desenrola.
Segundo o professor, um Japinha veio explorar e fazer turismo aqui no país tropical, afinal não há ser vivente que resista a máxima de Chico Buarque: "Não existe pecado do lado de baixo do Equador." Ao explorar a Terra Brasilis em uma trilha qualquer por vegetação rasteira uma plantinha isistente e chata teimou em grudar nas pernas de sua calça. Grudada pra valer a pequena esfera espinhosa e sagaz se agarrava no tecido. Intrigado com a bolinha vegetal de espinho, o Japa tirou-as da calça e as colocou em um recipiente para analisar assim que chegasse ao Japão, e assim o fez. Ao analisar a estrutura da bolinha espinhosa em microscópio o Japa teve de imediato a idéia de usar uma estrutura semelhante para inventar algo que fosse expert em grudar extremidades. Assim nascia o velcro e sua tão inteligente praticidade aliada a eficiência. Da criação para a patente foi um pulo, da patente para os milhões de lucro foram mais dois. Criador e criatura satisfeitos com os resultados.
Então quanto valeu o Turismo e a ventura de exploração em um país-continente desconhecido?
Quando valeu o novo, a experiência, a criação?
Quanto nos vale percorrer caminhos nunca antes percorridos?
Quanto vale arriscar? Quanto vale uma idéia? Quanto vale algo único, seu, particular?

Ai quantos 'quantos'!!!!!

Nada entra em portas fechadas, permita-se. Inove. Objetive. Explore. Corra. Alcance. Tente.
Se nada valer tanto o quanto você empreendeu que valia, ainda assim você terá vivido tudo que se permitiu viver.

A vida é agora, sempre.


Dinha Gonçalves

Pedaço de sonho

Ontem gastei todo meu dinheiro, comprei um terreno em Marte! Eis ao lado a foto cedida pela Nasa do meu pedaço de sonho.


Sem pessoas, bichos ou coisas. Eu e minha acompanhada solidão. Ando cansada de tantos eus, incluindo o meu.
Antoine de Sant-Exupéry eternizou nas mentes das crianças jovens e velhas aquele sábio principezinho loiro que sabia ver elefantes dentro de estômagos de jibóias. Coisa esquisita hoje onde não vemos o nítido, quem dirá o refletido.
Mas voltando para o meu terreno em Marte, acho que não levarei nada em especial, lembrarei do principezinho e viajarei com uma cadeira talvez. Também não levarei a minha rosa, tão amada, com aqueles idênticos espinhos a do livro. Uhhhhh, e como acha que pode se proteger de tudo ao mostrar eles bem afiados.
Sentarei sozinha e contemplarei inúmeros pôres-do-sol, com o planeta Terra à palma mão. Deixarei as pessoas ocas e vazias como numa lembrança de uma paisagem desagradável. Me sentirei menos culpada, por estar sozinha na solidão e não sozinha em meio à multidão. Me aliviarei de não esperar nada de ninguém, assim tudo que acontecer será uma surpresa. Ficarei com as lembranças, só as boas. Reviverei todas. Exalarei por Marte o cheiro de mofo dos sentimentos tão bem guardados, úmidos, doces, ácidos. Me entristecerei o quanto meu orgulho pedir, sem julgamentos nem possibilidades de condenações. Ah e como aproveitarei tudo que o nada tem a me oferecer. Marte será o meu pedaço de mim que ninguém alcança, o mergulho no escuro do desconhecido palpável. Estou a contar as horas para minha viagem, sem malas nem passagem.


De súbito, o despertador do celular alarmou. Hora de ligar o piloto automático da vida real.


Dinha Gonçalves

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

As melhores coisas do mundo

Cresci ouvindo do meu avô que a melhor coisa do mundo era beber água quando se está com sede! Eu achava calada aquilo tão gozado. A melhor coisa do mundo ser um gole de água num calorzão, engolir a vontade em segundos prazerosos de alívio...e depois? O que viria a ser a melhor coisa do mundo depois que tivesse acabado de se ter a melhor coisa do mundo? (...) (????)


Eu pensava e achava difícil demais encontrar algo que fizesse algum sentido para se ter como resposta. O melhor era não ficar perdendo neurônios com algo sem resposta.
Hoje andei me perguntando o que seriam as melhores coisas do mundo. Lembrei do meu avô e dei risada novamente, mas com o desejo de que pudesse voltar no tempo pra mostrar para ele que existem tantas coisas melhores do mundo.


A melhor coisa do mundo é não se entender e aceitar isso. A melhor coisa do mundo é estar bem seja aonde você esteja. A melhor coisa do mundo é dar muita risada entre amigos, bom é ter ânimo a cada novo objetivo, bom é esperar feliz a chegada de alguém tão esperado, gostoso é tomar banho de chuva num dia quente, é ser abraçado num carinho verdadeiro, é sentir amparado pelo amor, é a comida simples feita com dedicação que você adora, é aquele café da tarde quando o corpo pede uma droga para continuar o dia, bom mesmo é ser sem precisar muito de ter, é uma fração de segundo que a paixão lhe laça, a melhora coisa do mundo é viver.


Cada um em si já é a melhor coisa do mundo.


Dinha Gonçalves